quinta-feira, 17 de abril de 2008


1° DE MAIO DE MEMÓRIA E JUSTIÇA Estados Unidos. Chicago de 1886 – Jornadas de trabalho entre 14 e 16 horas esgotavam a classe operária com uma exploração brutal e degradante. O movimento dos trabalhadores desde 1884 preparava sua ofensiva. Uma greve geral pela redução da jornada de trabalho para 8 horas era preparada e convocada nos locais de trabalho. Um comitê para essa finalidade foi organizado. Se fizeram comícios e assembléias que apoiados pela propaganda anarquista e socialista armaram de razões e sentimentos esta classe que se lançava resoluta e corajosa contra seus exploradores. Em 1° de maio de 1886 milhares de greves sacudiram Chicago e os sindicatos operários mobilizavam uma potente força social no cenário das lutas. A demissão de 1200 trabalhadores da fábrica Mac Cormick provoca as primeiras batalhas físicas com a polícia e os agentes particulares mandados pela classe patronal. Uma repressão covarde é desatada sobre os grevistas e faz vítimas mortais. Os jornais burgueses, em franca articulação com o poder, reclamam prisão e trabalhos forçados como única solução para a questão social. A luta de classes se inflama e o movimento operário não dá um passo atrás na sua causa. No quarto dia de greve, um comício na praça Haymarket, que reunia mais de 25 mil manifestantes, chegava ao seu final quando a polícia apresentou mais uma vez suas armas. A violência policial avança na multidão, impiedosa com crianças e idosos, até encontrar com a bomba justiceira da autodefesa dos trabalhadores, que deixa mortos e feridos nas filas do repressor. A burguesia desafiada pela dignidade operária pede um banho de sangue sobre este movimento. Com pressa o Estado autorizou detenções, violação de domicílios e golpeou as liberdades públicas. Para conservar a ordem capitalista que era enfrentada, captura e passa o laço no pescoço dos mais queridos militantes da classe trabalhadora. Em 20 de agosto de 1886, oito operários anarquistas foram julgados como inimigos da ordem pública dos EUA. Neebe condenado a 15 anos de prisão, Schwab e Fielden à prisão perpétua. Augusto Spies, Alberto Parsons, Jorge Engel, Adolfo Fischer (gráficos) e Luís Lingg (carpinteiro) foram entregues a forca. Estava consumado um crime de Estado que deixava de luto a classe trabalhadora de todo o mundo. As bandeiras vermelhas ganhavam a companhia do preto como símbolo de uma dor que não esquece e não perdoa jamais a cruel justiça burguesa. “A burguesia de Chicago descansou tranqüila a 11 de novembro de 1887. Quatro homens enforcados, um morto por suicídio e três cidadãos no presídio satisfizeram o seu ódio brutal e sua sede de vingança.” (R. Mella) A confissão de um jurado do tribunal dizia que “eram homens sacrificados demais, inteligentes demais e perigosos demais para nossos privilégios”. Memória e impunidade são inimigos mortais. 120 anos nos separam das batalhas de Haymarket e o julgamento dos Mártires de Chicago. Como tantas outras histórias sociais, essa nos revela o juízo de uma classe contra outra, os vereditos de um aparelho judiciário que guarda um direito burguês onde a pobreza está sempre no banco dos réus quando levanta sua voz e luta. Para o poder a impunidade e para os oprimidos a lei. “É doído a gente ir atrás do pão e encontrar uma bala”, desabafa o homem que escapou da morte. 10 anos se completam neste ano desde aquele massacre em Eldorado dos Carajás, onde Estado e Latifúndio cooperaram no terror assassino que arrancou a vida de 19 trabalhadores rurais sem terra no sul do estado do Pará. E a justiça entregue aos critérios burgueses, ao seu poder econômico e político, vai colecionando peças no museu da impunidade. Dominada pelas oligarquias do agronegócio, de 1997 para cá a região conta mais de 100 assassinatos e mais de 10 mil trabalhadores em regime de escravidão. Pronta resposta judicial e policialesca tem aquela tia do noticiário que leva embora o pote de margarina do supermercado enquanto o criminoso da gravata vendido ao governo do mensalão tem os privilégios e a lealdade bandida da classe política. Aqui no estado do RS, quanta campanha tem feito a RBS para criminalizar os movimentos sociais do campo pela ação direta que enfrenta os latifúndios e o incontável prejuízo ambiental de empresas como Aracruz Celulose. Pelos campos e cidades da ordem capitalista onde cavalgam impunes as classes dominantes montadas nos seus aparelhos de dominação a memória é a primeira fortaleza de onde fazemos a resistência. Memória que não esquece e que não perdoa, que se faz o princípio de uma estratégia popular vingadora das esperanças e razões de todos que pelearam e peleiam por uma sociedade justa, de livres e iguais. Herança de um sindicalismo classista de ação direta. Esta mesma memória rebelde que reivindicamos, saber acumulado de lutas sociais emancipatórias, nos faz recordar daquele sindicalismo de ação direta que deu consciência e organização para os trabalhadores fazerem suas primeiras conquistas. Entre 15 e 20 de abril de 1906 a classe operária reunia seus delegados no Rio de Janeiro para abrir as sessões de seu 1° Congresso nacional. Desde as indústrias o poder impunha condições insalubres ao trabalho, jornadas de 14 horas em seis dias da semana, salários miseráveis, carestia de vida. Indenizações por acidente ou seguro para velhice não existiam. Crianças com menos de 14 anos de idade consumiam sua infância no regime embrutecedor das máquinas. Adepta do velho sindicalismo revolucionário, a COB (Confederação Operária Brasileira) – que será constituída em 1908 – nos deixa uma herança de valores e métodos que atravessam 100 anos com vigência para nosso presente de lutas. Não ignoramos as mudanças que veio sofrendo o mundo do trabalho, das leis trabalhistas que acomodaram reivindicações históricas, às novas engenharias produtivas e a correlação de forças que resulta das pautas de liberalismo econômico. Mas um sindicato que marca seu caminho com independência de classe: “fora da luta política especial de um partido, de uma doutrina política ou religiosa, ou de um programa eleitoral”, como diz a resolução do 1° congresso, é uma verdade simples e implacável com o pacto de sangue da CUT e o governo Lula. Apoio mútuo e solidariedade, táticas de ação direta, rechaço as burocracias e preocupação com fórmulas federativas que davam lugar decisivo para a participação das bases são princípios do acervo desse sindicalismo que são ferramentas para o hoje. Para um movimento operário classista e combativo correspondente de seus valores históricos e atualizado às novas situações históricas concretas que deve responder. Nosso precário e fragmentado mundo do trabalho. Nosso presente histórico também tem seus problemas. Jornadas de trabalho com mais de 50 horas semanais, às vezes chegando a 60 horas pertencem a uma realidade bem conhecida dos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil nestes dias. Baixos salários fazem das horas extras o complemento de renda necessário. E nas horas extras do emprego formal ou no trabalho sem proteção social dos informais, as relações de exploração vividas pelas primeiras gerações operárias, contra as quais se bateram unidos, ressurgem golpeando cada vez mais forte a classe oprimida do nosso país e do mundo. Os discursos do crescimento econômico informam de riquezas que nunca se convertem em melhores condições de vida para o povo que faz os serviços de limpeza no clube seleto dos que analisam e tiram vantagens das taxas disso e dos índices daquilo... Ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres é um fundamento conhecido do capitalismo. 500 milhões de pessoas vivem com 1 dólar por dia (OIT), no mundo onde peleamos para sobreviver. Na América Latina, mais de 10% dos trabalhadores estão desempregados e uns 50% precarizados pelo mercado informal de um total de 230 milhões estimados como população economicamente ativa. Não possuem cobertura social alguma e assim nenhum direito conhecido como férias, seguro de saúde, seguro-desemprego, fundo de garantia, etc. Os salários são baixos e os seus empregos temporários. No caso de nossa realidade nacional 22,1 milhões de brasileiros se amontoam também neste mundo opressivo da pobreza. Somados os que fazem trabalho como informais ou por outros meios este número vai chegar aos 50 milhões (OIT). Por conseqüência, a participação dos trabalhadores na renda nacional é cada vez mais baixa. Direitos sociais que fazem parte fundamental do patrimônio de conquistas do nosso movimento operário não tem extensão para mais da metade da classe, que se fragmenta e perde voz coletiva para suas reivindicações. Frente a estes contextos sociais de pobreza e marginalização a pauta dos governos vai apertando o cinto até a miséria dos trabalhadores e engordando grupos econômicos e financeiros. No novo desenho estrutural para o Estado as classes dominantes reclamam de volta tudo que teve que ceder para as conquistas históricas outrora feita pelos oprimidos nas lutas de classe. É o neoliberalismo restabelecendo o poder real das corporações privadas na sua economia de mercado e guardando aos governos e a legislação um lugar bem limitado na gerência da ordem burguesa. Entra governo e sai governo e a ordem já está dada, essa é a regra de quem aceita lugar na engrenagem das instituições dessa democracia liberal. O aperto fiscal, por exemplo, que fez o governo Lula para pagar os juros da dívida pública em 2005 não acontecia desde 1994: mais de R$ 93 bilhões. Que não fizeram os reajustes salariais que peleiam os trabalhadores, que se furtaram dos investimentos em obras, serviços públicos e reformas sociais. Mas que pagaram e alimentaram a gordura dos agiotas como pede o FMI. E são os banqueiros, esses que fazem o co-governo do país, entre outros, quem põe dinheiro nas campanhas eleitorais de governo e oposição. PT e PSDB receberam juntos R$ 44,7 milhões de doação dos bancos entre 2002 a 2004. Fica mais fácil de explicar assim os lucros recordes dos bancos nesse país. Comem no prato do arrocho dos investimentos sociais. Foi preciso ver um projeto político de origem reformista se entregar ao canto da sereia do processo eleitoral burguês, vencer nos votos e perder na luta política real, se envolver e operar nas tramas da corrupção e da impunidade, para saber que o sistema não dá bobeira. Deixa a esquerda latir na pátio de casa como se tivesse poder, convida pra entrar, mas não larga o osso e a mordida. Sabe domesticar. Paras as lutas de resistência que ficam com o movimento popular e os sindicatos dos trabalhadores que não vendem independência de classe, para as tarefas de acumulação social desde baixo a marcha não termina aqui. NADA PODEMOS ESPERAR SENÃO DE NÓS MESMOS. CRIAR PODER POPULAR COM A CAPACIDADE POLÍTICA DAS CLASSES OPRIMIDAS. MEMÓRIA REBELDE E JUSTIÇA POR TODOS OS MÁRTIRES DA LUTA DOS TRABALHADORES. NÃO ESQUECEMOS NEM PERDOAMOS. VIVA O 1° DE MAIO!!!
... Texto publicado no Jornal Opinião Anarquista

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