Em Porto Alegre,
vemos isto na maneira como os espaços
públicos
– o cais, a orla, o Largo Glênio Peres – são primeiro
abandonados pelo poder público, para depois serem “negociados” e
“cedidos” para a iniciativa privada. Ou como se deixa de investir
em transporte
público e alternativo,
como bicicletas, para insistir com um modelo de “um carro por
pessoa”, que aumenta a poluição e os engarrafamentos.
Tudo isso nos é
apresentado sempre como se não houvesse outra escolha. Primeiro, em
nome do desenvolvimento:
“mas o país precisa crescer!”. É claro que é preciso fazer a
renda e as oportunidades chegarem a todos. Mas existem muitos jeitos
de fazer isto. E certamente o melhor deles não é dar muito a quem
já tem e deixar os restos para quem não tem.
.
Vemos isto no
avanço dos latifúndios e dos especuladores sobre as terras
indígenas e quilombolas,
facilitado pelo governo, que não as demarca ou faz vista grossa às
ameaças e invasões, como tem acontecido com quilombos na cidade
(Fidélix, dos Silva, Areal da Baronesa) e no estado (Morro Alto,
Palmas);
Vemos isto mesmo
em um investimento supostamente em “energia limpa”, como a usina
de Belo Monte,
de altíssimo custo humano e ecológico, que encherá os cofres de
construtoras para produzir energia não para o consumo, mas para
grandes indústrias de exportação que devastarão ainda mais a
Amazônia;
Esse é o
verdadeiro significado da economia
verde:
aproveitar a crise ambiental para garantir que aqueles que estão por
cima continuem por cima, mesmo que isso ponha cada vez mais em risco
a vida de todos. Este capitalismo
verde
é a única esperança de uma economia mundial em crise; por isso, os
governos
de todo o mundo estão de mãos dadas com as grandes
corporações.
Mas a crise econômica foi causada porque se deu ao
mercado
todo o poder para decidir sobre nossas vidas – e hoje querem nos
convencer que o mesmo mercado é a solução para a crise ecológica.
E da mesma forma
que aqueles que causaram a crise financeira até hoje não foram
punidos, e quem paga a conta são os povos da Grécia, da Espanha e
outros países, aqueles que fizeram fortunas com a destruição do
planeta pretendem continuar ganhando dinheiro – enquanto cada vez
mais serão os
mais pobres
que sofrerão com os impactos das mudanças climáticas.
Mas os impactos, tanto destas mudanças
quanto da transformação da vida e do ambiente em oportunidades de
investimento, já estão aqui.
- Vemos isto no novo Código Florestal, feito sob medida para permitir o desmatamento, com a desculpa de que o que é bom para o agronegócio é bom para o país.
- Vemos isto na destruição de nossas matas nativas para o plantio de eucaliptos, que empobrecem os solos enquanto enriquecem as papeleiras e o mercado de carbono.
- Vemos isto no modo como os investimentos da Copa do Mundo expulsam as populações carentes para as periferias e entregam seus terrenos às construtoras e à especulação imobiliária.
Agora nos dizem que
é preciso aceitar tudo isso para salvar o planeta: “mas precisamos
da economia verde!” É claro que é preciso produzir e distribuir
riquezas de maneira sustentável. Mas o problema do capitalismo
verde
não é só que ele enriquece
poucos às custas de muitos:
é que ele faz isso às
custas da vida de todos.
A economia verde promete tomar emprestado hoje para pagar amanhã;
mas fazendo isto, ela põe
o amanhã em risco.
O capitalismo verde
depende de nos convencer de que ele é a única opção. Para fazer
isso, ele precisa esconder as verdadeiras soluções postas em
prática todos os dias por comunidades e povos do mundo todo: a
economia
solidária,
a agroecologia,
as energias
realmente limpas,
a cultura
livre,
a bioconstrução,
o aproveitamento econômico realmente
sustentável
pelas populações que já estão nos territórios, as maneiras de
produzir
sem explorar o trabalho
e pondo um fim à opressão das mulheres,
dos negros,
dos indígenas.
Um modo de mudar o mundo e defender a vida a partir da iniciativa dos
mais pobres e da valorização dos bens comuns, ao invés de dar mais
poder aos mais ricos e à propriedade privada.
É por isso que
hoje fazemos em Porto Alegre um Dia
de Ação contra o Capitalismo Verde, em Defesa dos Bens Comuns e
pela Justiça Social e Ambiental.
E é por isso que, de 15
a 23 de junho,
acontecerá no Rio a Cúpula
dos Povos,
onde os movimentos sociais, as comunidades afetadas e a sociedade
civil do mundo todo se reunirão para apontar as causas estruturais
da crise ambiental, denunciar as falsas soluções oferecidas pelo
mercado e pela Rio+20, mostrar as verdadeiras soluções que já
estão sendo construídas hoje, e organizar e fazer crescer um
movimento capaz de trazer as mudanças de que realmente precisamos.
Dizemos
aos governantes, saiam do caminho e parem de pôr nossas comunidades,
nossa biodiversidade e nossa vida em risco; e convidamos todos, em
Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, no Brasil e no mundo, a tomar
parte nesta luta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário