terça-feira, 5 de junho de 2012

Dia de Ação contra o Capitalismo Verde, em Defesa dos Bens Comuns e pela Justiça Social e Ambiental

 Em Porto Alegre, vemos isto na maneira como os espaços públicos – o cais, a orla, o Largo Glênio Peres – são primeiro abandonados pelo poder público, para depois serem “negociados” e “cedidos” para a iniciativa privada. Ou como se deixa de investir em transporte público e alternativo, como bicicletas, para insistir com um modelo de “um carro por pessoa”, que aumenta a poluição e os engarrafamentos.
Tudo isso nos é apresentado sempre como se não houvesse outra escolha. Primeiro, em nome do desenvolvimento: “mas o país precisa crescer!”. É claro que é preciso fazer a renda e as oportunidades chegarem a todos. Mas existem muitos jeitos de fazer isto. E certamente o melhor deles não é dar muito a quem já tem e deixar os restos para quem não tem.
.
 Vemos isto no avanço dos latifúndios e dos especuladores sobre as terras indígenas e quilombolas, facilitado pelo governo, que não as demarca ou faz vista grossa às ameaças e invasões, como tem acontecido com quilombos na cidade (Fidélix, dos Silva, Areal da Baronesa) e no estado (Morro Alto, Palmas);
Vemos isto mesmo em um investimento supostamente em “energia limpa”, como a usina de Belo Monte, de altíssimo custo humano e ecológico, que encherá os cofres de construtoras para produzir energia não para o consumo, mas para grandes indústrias de exportação que devastarão ainda mais a Amazônia;

  
Esse é o verdadeiro significado da economia verde: aproveitar a crise ambiental para garantir que aqueles que estão por cima continuem por cima, mesmo que isso ponha cada vez mais em risco a vida de todos. Este capitalismo verde é a única esperança de uma economia mundial em crise; por isso, os governos de todo o mundo estão de mãos dadas com as grandes corporações. Mas a crise econômica foi causada porque se deu ao mercado todo o poder para decidir sobre nossas vidas – e hoje querem nos convencer que o mesmo mercado é a solução para a crise ecológica.
E da mesma forma que aqueles que causaram a crise financeira até hoje não foram punidos, e quem paga a conta são os povos da Grécia, da Espanha e outros países, aqueles que fizeram fortunas com a destruição do planeta pretendem continuar ganhando dinheiro – enquanto cada vez mais serão os mais pobres que sofrerão com os impactos das mudanças climáticas.
Mas os impactos, tanto destas mudanças quanto da transformação da vida e do ambiente em oportunidades de investimento, já estão aqui.
  • Vemos isto no novo Código Florestal, feito sob medida para permitir o desmatamento, com a desculpa de que o que é bom para o agronegócio é bom para o país.
  • Vemos isto na destruição de nossas matas nativas para o plantio de eucaliptos, que empobrecem os solos enquanto enriquecem as papeleiras e o mercado de carbono.
  • Vemos isto no modo como os investimentos da Copa do Mundo expulsam as populações carentes para as periferias e entregam seus terrenos às construtoras e à especulação imobiliária.
Agora nos dizem que é preciso aceitar tudo isso para salvar o planeta: “mas precisamos da economia verde!” É claro que é preciso produzir e distribuir riquezas de maneira sustentável. Mas o problema do capitalismo verde não é só que ele enriquece poucos às custas de muitos: é que ele faz isso às custas da vida de todos. A economia verde promete tomar emprestado hoje para pagar amanhã; mas fazendo isto, ela põe o amanhã em risco.
O capitalismo verde depende de nos convencer de que ele é a única opção. Para fazer isso, ele precisa esconder as verdadeiras soluções postas em prática todos os dias por comunidades e povos do mundo todo: a economia solidária, a agroecologia, as energias realmente limpas, a cultura livre, a bioconstrução, o aproveitamento econômico realmente sustentável pelas populações que já estão nos territórios, as maneiras de produzir sem explorar o trabalho e pondo um fim à opressão das mulheres, dos negros, dos indígenas. Um modo de mudar o mundo e defender a vida a partir da iniciativa dos mais pobres e da valorização dos bens comuns, ao invés de dar mais poder aos mais ricos e à propriedade privada.
É por isso que hoje fazemos em Porto Alegre um Dia de Ação contra o Capitalismo Verde, em Defesa dos Bens Comuns e pela Justiça Social e Ambiental. E é por isso que, de 15 a 23 de junho, acontecerá no Rio a Cúpula dos Povos, onde os movimentos sociais, as comunidades afetadas e a sociedade civil do mundo todo se reunirão para apontar as causas estruturais da crise ambiental, denunciar as falsas soluções oferecidas pelo mercado e pela Rio+20, mostrar as verdadeiras soluções que já estão sendo construídas hoje, e organizar e fazer crescer um movimento capaz de trazer as mudanças de que realmente precisamos.

Dizemos aos governantes, saiam do caminho e parem de pôr nossas comunidades, nossa biodiversidade e nossa vida em risco; e convidamos todos, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, no Brasil e no mundo, a tomar parte nesta luta.


Nenhum comentário: